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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Um pouco da Floresta

Floresta Amazônica

Em amarelo a área ocupada pela floresta amazônica: 5,5 milhões de quilômetros quadrados em nove países

Localização – sua extensão total é de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, ocupando a área drenada pelo Rio Amazonas, na porção equatorial da América do Sul, com cerca de 60% de sua superfície situada em território brasileiro e outros 40% distribuídos entre Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.


Geografia amazônica








Clima – predomina o equatorial úmido, com temperaturas médias anuais na casa dos 24ºC e precipitação em torno de 2.500mm ao ano (considerada alta, quando comparada à de outras regiões do globo), o que favorece o desenvolvimento de uma rica e diversificada vegetação. A hidrografia local, com rios de grande porte, como o Amazonas, também é importante no fornecimento de umidade para as terras mais baixas, onde está localizada a porção alagadiça da floresta.
Características – existe forte relação entre elementos naturais formadores da floresta, como o clima, o solo, a fauna e a flora, sendo que nenhum deles pode ser considerado de maior relevância para a sua formação. A Floresta Amazônica é dividida em faixas, de acordo com suas características de presença de umidade. As regiões de maior altitude são conhecidas como florestas de terra firme, que apresentam as árvores de maior porte. Igapó é o nome dado ao trecho inundado da floresta, nas porções de menor altitude, bem próximas à margem dos grandes rios que compõem a região. As árvores dessas porções são capazes de ficar por um longo período com grande parte de seus troncos submersos e mostram adaptações muito interessantes, como sementes capazes de flutuar, o que facilita a disseminação de suas espécies. As matas de várzea estão sujeitas a inundações periódicas.
Outra importante característica dessa formação florestal é a grande variedade cultural de povos vivendo da sua exploração. Até mesmo indígenas relativamente isolados ainda são encontrados na floresta.
Fauna – ainda muito deve ser estudado do ecossistema amazônico para se conhecer em detalhes a riqueza de sua fauna. Para se ter uma ideia, calcula-se que em torno de 70% das espécies de artrópodos da região não possui sequer um nome. Com relação à fauna aquática, a Floresta Amazônica contém a maior diversidade de peixes das bacias hidrográficas do mundo, estimando-se um número de 1.300 espécies habitando toda a bacia do Rio Amazonas.


Floresta Amazônica: fauna diversificada

Com relação a anfíbios, apenas na Amazônia brasileira, a despeito dos poucos recursos investidos em pesquisas, já existem 163 registros de espécies diferentes, o que corresponde a quase 4% do total das 4 mil que se acredita existirem em âmbito global.
As aves representam o grupo mais bem estudado da Amazônia e totalizam mais de mil espécies, sendo os mutuns, inhambus, araras, papagaios, periquitos e tucanos os mais representativos.


As aves representam o grupo mais bem estudado da Amazônia

Os mamíferos também são abundantes na Amazônia. Atualmente, estão registradas 311 espécies, porém representadas por animais de pequeno porte, como os roedores. Vale a pena destacar que, nos últimos anos, novas espécies de primatas vêm sendo descobertas e que felinos de grande porte, como a onça pintada, são comuns em suas matas.


Estão registradas 311 espécies de mamíferos na Amazônia

Situação atual – a boa notícia é que, entre 2009 e 2010, a Floresta Amazônica apresentou o seu menor índice de desmatamento desde 1988, quando o monitoramento começou a ser feito. Mas, mesmo assim, a área devastada durante esse período é equivalente à do Distrito Federal, menor unidade da Federação. Esse levantamento, feito por meio do acompanhamento de imagens tomadas a partir de satélites artificiais em órbita do Planeta, é um importante avanço no sentido de descobrir os principais focos de desmatamento e acionar a fiscalização como forma de coibir esse tipo de ação feita de forma ilegal.
O pico do desmatamento ocorreu no ano de 1995, quando aproximadamente 30 mil quilômetros quadrados de Floresta Amazônica foram devastados, seguido dos anos de 2003 e 2004, com 25 mil e 27 mil quilômetros quadrados de mata abatida, respectivamente. A soma da área devastada durante esses três anos equivale ao território da Áustria.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Peixe elétrico da Amazônia inspira criação de robôs subaquáticos




Cientistas de uma universidade americana criaram um robô subaquático a partir da análise de características de um peixe elétrico da Bacia Amazônica.
O ituí-cavalo (Apteronotus albifrons) é um peixe de hábitos noturnos que vive na região amazônica. Ele é cego, mas consegue emitir uma leve corrente elétrica na água para determinar como é o ambiente onde está.
Estes peixes possuem receptores distribuídos pelo corpo, que permitem "sentir" o ambiente a partir da corrente elétrica emitida.
Os pesquisadores da Universidade Northwestern acreditam que essas características podem ajudar no desenvolvimento de uma nova geração de robôs autônomos que operam debaixo d’água.
A partir do ituí-cavalo, os pesquisadores criaram robôs que conseguiram se mover em meio a destroços e na escuridão total. Eles seriam úteis em casos de navios naufragados ou em vazamentos de petróleo, por exemplo.
"Hoje não temos robôs subaquáticos que funcionem bem em meio a obstruções ou em condições onde a visão não é muito útil", disse Malcolm MacIver, um dos líderes da pesquisa.


Robô pode ser útil em caso de vazamentos de petróleo e navios naufragados

"Pense em um navio de cruzeiro afundado. É muito perigoso mandar mergulhadores para estas situações, onde a água pode ser muito turva."
MacIver mostrou o resultado de sua pesquisa na reunião anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), em Chicago.
Campo elétrico
Malcolm MacIver estuda o ituí-cavalo há anos, decifrando seus sistemas sensorial e de movimento. Para o pesquisador, é possível aprender com estes peixes.
"Eles não usam a visão para caçar durante a noite nos rios da bacia do Amazonas, e seus movimentos em meio a raízes amontoadas e florestas inundadas tem que ter uma precisão incrível", disse.
Estes peixes geram um campo elétrico a partir de neurônios modificados em sua medula espinhal. Quando a caça, como insetos aquáticos, entram neste campo, o peixe consegue medir a minúscula mudança na voltagem graças aos receptores na superfície de sua pele.


Sensores foram espalhados no robô, de maneira semelhante ao corpo do ituí-cavalo
"O peixe desenvolveu um sistema incrível. Imagine como seria se sua retina fosse esticada, cobrindo todo seu corpo. Está é a situação do ituí-cavalo", disse MacIver.
"Eles detectam em todas as direções. Eles emitem um tipo de radar, mas é um campo elétrico; e os receptores sensoriais espalhados por toda a superfície do corpo significam que eles conseguem detectar coisas vindo de todas as direções."
Com base nestes estudos do peixe amazônico, o cientista desenvolveu um robô que, dentro do tanque no laboratório, reage ao que está em volta e se move de acordo com a informação que recebe dos obstáculos que encontra no tanque.


Propulsão
Além de reproduzir a forma com que o peixe reage aos obstáculos, MacIver também quer copiar a técnica de propulsão do ituí-cavalo.
Pesquisadores tentam fazer com que robô se movimente como o peixe brasileiro
O peixe se move enviando ondas através da longa nadadeira na barriga.
Ao ondular a nadadeira de um jeito, o peixe se move para frente. Ao movê-la de outro jeito, ele se move na direção contrária e mudando mais uma vez estas ondas e o animal consegue se mover para cima.
"De todas as nossas simulações, agora temos relações matemáticas entre coisas como frequência e amplitude da onda e o quanto de propulsão você consegue", disse.
"Então agora podemos transformar isto em tecnologia e fazer funcionar", acrescentou.
No momento, o laboratório da Universidade Northwestern conseguiu criar uma plataforma robótica que reproduz a capacidade sensorial do peixe e outra que consegue imitar a capacidade de locomoção.
O objetivo agora é juntar estas duas capacidades em um único dispositivo.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Pesquisadores descobrem 169 novas espécies de fauna e flora na Amazônia


O achado é fruto do trabalho de cientistas do Museu Paraense Emílio Goeldi ao longo de quatro anos; pequeno primata está entre as novidades
Em somente quatro anos de trabalho na maior floresta tropical do mundo, a Amazônica, pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi descobriram a existência de 169 novas espécies da fauna e da flora. O levantamento, que contou com a participação de quase mais cientistas do que espécies, será anunciado nesta quarta-feira, 19, pelo museu.
Entre os achados, estão 14 plantas e 155 animais, sendo a maioria (112) de aracnídeos. Há ainda 12 espécies de peixes, 10 de aves, 10 de anfíbios, 6 de répteis, 4 de dípteros (grupo dos mosquitos e moscas) e um mamífero - um pequeno primata.

 
 A distribuição mais pendente para o lado dos invertebrados não surpreende, uma vez que obviamente eles ocorrem em maior quantidade na natureza. No entanto as descobertas nessa área sempre foram um pouco mais lentas - tanto pelas inúmeras dificuldades em estudar animais tão diminutos quanto pelo pouco interesse do público em geral em espécies que não estão claramente à vista.
O novo achado, segundo o zoólogo Alexandre Bonaldo, ganhou em rapidez por estar inserido em um grande projeto internacional que visa identificar, em todo mundo, gêneros e espécies da família Oonopidae - que reúne pequeníssimas aranhas de 2 mm a 5 mm.

O Inventário da Biodiversidade Planetária (PBI, na sigla em inglês) envolve pesquisadores de 20 instituições de todo o mundo e permite que eles descrevam espécies em uma plataforma online.
Com as ferramentas cibernéticas é possível fazer descrições estruturadas, que podem ser comparadas com as dos outros colegas, o que facilita e acelera a descoberta de novidades", afirma o pesquisador.


Bonaldo trabalhou basicamente com exemplares que estavam há muitos anos em coleções de museus aguardando identificação. "Descrever invertebrado é uma coisa sem fim. É uma diversidade tão grande, e as pessoas tendem a não prestar muita atenção, mas são peças importantes do ecossistema. Para preservar é preciso saber o que tem ali", diz.

Essas aranhas, em especial, são predadoras, que comem outros pequenos insetos e acabam atuando no processo de decomposição da matéria orgânica que se acumula no solo, na chamada serrapilheira (camada do solo de florestas feita de folhas e ramos misturados à terra)


Vertebrados. Entre os animais maiores descritos agora destaca-se o um novo macaquinho, o Mico rondoni, que, como o nome leva a entender, existe somente em Rondônia, na área entre os Rios Mamoré, Madeira e Ji-Paraná. Por muito tempo ele foi confundido com uma outra espécie, o Mico emiliae, que ocorre no Pará. A nova espécie está ameaçada pelo intenso desmatamento no Estado, principalmente no entorno da BR-364.

Nessa mesma região também foram descobertas recentemente novas espécies de aves, como a Hylophylax naevius, popularmente conhecida como guarda-floresta. Ela ainda não foi descrita, o que indica que muitas espécies ainda estão por surgir.


As descobertas dos últimos quatro anos chamam atenção pela grande quantidade em pouco tempo. O último levantamento em massa do museu - o Catálogo de Espécies do Milênio, apresentado em 2012 - trazia, por exemplo, 130 novas espécies descritas ao longo de 11 anos de pesquisa da instituição.

Segundo Marlucia Martins, coordenadora do grupo de pesquisa em biodiversidade do museu, houve uma melhora nos últimos anos do planejamento sobre o que pesquisar e isso acabou garantindo um resultado imediato.

"Não existe fórmula para descobrir novas espécies, é acaso, mas algumas coisas melhoram a probabilidade de achar, como ir para lugares poucos explorados, tanto geográficos quanto no próprio ambiente, como olhar mais para o solo e a copa das árvores. Também passamos a investir mais nas coleções científicas. Além disso várias descobertas foram feitas com a ajuda da biologia molecular, que permite distinguir várias espécies que antes se imaginava ser uma só. Isso acelera bastante, quebra a barreira de usar só uma fonte para identificar, como a morfologia", explica.

Foi isso que possibilitou, por exemplo, que se descobrisse o torom-de-alta-floresta (Hylopezus whittakeri), ave que sempre foi confundida com o torom-carijó (Hylopezus macularius). De acordo com a pesquisadora, a expectativa é aumentar de 20% a 30% o número de novas espécies só no grupo de aves, e somente usando a biologia molecular.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Conheça as novas ações contra avanço do desmatamento na Amazônia

Derrubada da floresta amazônica aumentou 28% neste ano. Pará é o Estado que mais desmata na região 
BRASÍLIA - As ações de combate ao desmatamento ilegal serão intensificadas na Amazônia, conforme anúncio do Governo Federal. Durante a abertura da 112ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a ministra do Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, declarou que o trabalho será reforçado por meio da tecnologia e da pressão contra os madereiros. Apenas neste ano, as estatísticas da pasta mostram que o desmate da floresta amazônica teve um aumento de 28%.

41 municípios têm restrição a crédito do governo federal por listarem entre os que mais desmatam na Amazônia. 

Em 2014, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) vai usar imagens de satélites que vão enxergar desmatamentos de até três hectares, o equivalente a três campos de futebol. Atualmente, o Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter) detecta devastações acima de 25 hectares. A tecnologia também é aposta para detectar a degradação da mata abaixo da cobertura de nuvens, que dificultam a visualização via satélite. “Vamos pegar o desmatamento da exploração seletiva das árvores”, disse Izabella.

Para intensificar o trabalho de fiscalização, a ministra informou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está estudando o uso de drones (aviões não tripulados) para acabar com o crime ambiental na Amazônia.

Amazonas é um dos estados brasileiros com maior potencial para exploração de madeira. Foto: Divulgação/Ibama
Outra medida será a ampliação do número de municípios na lista de desmatadores. “Vamos endurecer as restrições. Não aceito que um município saia da lista e no ano seguinte apresente desmatamento ilegal quase como uma provocação”, disse. Hoje, existem 41 municípios na lista dos que mais desmatam na Amazônia que têm restrição a crédito do governo federal.

Entre agosto de 2012 e julho de 2013, foram desmatados 5.843 quilômetros quadrados do bioma amazônico segundo as imagens do Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélites (Prodes), do Inpe. No período anterior, foram registrados 4.571 quilômetros quadrados de desflorestamento. Entre os estados que mais desmataram estão Mato Grosso (52%) e Roraima (49%). Quando o cálculo é feito em quilômetros, os estados que lideram o ranking de desmatamento são o Pará, com 2.379 quilômetros quadrados, e Mato Grosso, com 1.149 quilômetros quadrados.

sábado, 22 de março de 2014

MOGNO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MOGNO
Características da Árvore
O mogno é uma árvore robusta que domina o dossel da floresta. Seu tronco pode atingir 3,5 metros de diâmetro e uma altura total de 70 metros (média de 30 m - 40 m), e a copa chega a 40 m - 50 m de largura (Williams 1932, Lamb 1966, Pennington & Sarukhán 1968). As raízes tabulares são comuns e podem atingir até cinco metros na base. O tronco pode alcançar 20 m - 25 m de altura antes de formar galhos e, na América Central, é espesso, com sulcos profundos e casca quase preta, o que proporciona uma excelente resistência ao fogo (Lamb 1966, Chudnoff 1979).
O valor comercial extraordinário do mogno tem estimulado a sua extração na Amazônia Brasileira há muitos anos, mas com maior intensidade desde o início dos anos 1970. Na medida em que a exploração madeireira se aproxima dos últimos estoques naturais de mogno no sul do Pará, sudeste do Amazonas e Acre, os órgãos ambientais brasileiros têm respondido às preocupações do público sobre o futuro comercial dessa espécie: i) reduzindo as cotas de exportação desde 1990; ii) proibindo a autorização de novos planos de manejo florestal para o mogno desde 1996; e iii) proibindo o transporte, processamento e comercialização dessa espécie, após detectar práticas ilegais de exploração no sul do Pará em outubro de 2001. Para garantir o futuro do mogno como um patrimônio natural e recurso natural renovável é necessário converter as informações técnicas disponíveis em diretrizes de manejo florestal que estejam de acordo com os interesses públicos, sejam viáveis para a indústria e auditáveis pelos órgãos ambientais.
Neste trabalho, apresentamos uma descrição sobre o mogno em toda a sua área de ocorrência natural na América do Sul e América Central, com ênfase numa pesquisa recente conduzida no Brasil. O mogno é uma árvore grande que ocorre em baixas densidades (geralmente, menos de uma árvore adulta por hectare) em florestas primárias sazonais, freqüentemente aglomeradas ao longo dos rios ou em zonas de transição ecológica altamente perturbadas. O mogno ocorre sob várias circunstâncias climáticas, hidrológicas, edáficas e de competição em toda a sua vasta área de ocorrência natural. Citado na América Central e Bolívia como uma espécie que requer perturbações catastróficas de larga escala para se regenerar, o mogno também tem demonstrado capacidade de se regenerar após perturbações de pequena escala no sul do Pará. As sementes de mogno dispersas pelo vento têm alto poder germinativo, porém, sua dispersão tem um alcance relativamente curto. As plântulas são resistentes e crescem rapidamente onde há muita luz e solos férteis. As taxas de crescimento do diâmetro das árvores juvenis e adultas (diâmetro à altura do peito ou DAP maior que 10 cm) podem exceder 1 cm/ano por muitos anos ou décadas. Porém, um predador natural – a broca do ponteiro, a larva da mariposa Hypsipyla grandella, a qual se alimenta dos tecidos do caule da planta em crescimento – pode limitar a população em florestas naturais e, controlar essa praga nas plantações é geralmente muito dispendioso.
No sul do Pará, a população do mogno em florestas naturais incluía árvores juvenis suficientes para proporcionar uma segunda colheita cerca de 30 anos após a primeira. Porém, os madeireiros geralmente cortavam parte das árvores jovens e as estradas abertas para a extração de mogno freqüentemente levaram à conversão de florestas em pastagens ou campos agrícolas. Onde a floresta é mantida, a regeneração do mogno nas clareiras da exploração é geralmente pobre. Isso ocorre devido à baixa produção de sementes antes da colheita, baixa disponibilidade de sementes após a colheita resultante do corte das árvores antes de as sementes se dispersarem e/ou ao fato de a vegetação dominante competir com as plântulas de mogno e arvoretas durante os anos após a extração.
As recomendações para o manejo de mogno em floresta natural baseadas em estudos no sul do Pará incluem: o planejamento das colheitas para reduzir os danos à floresta residual, o respeito aos limites de diâmetro mínimo para corte (idealmente, árvores com DAP a partir de 55 cm) e consideração de critérios de seleção de árvores matrizes, derrubada direcional e coleta de sementes das árvores derrubadas para redistribuição em clareiras de exploração. A regeneração do mogno deve ser estimulada artificialmente, pois a regeneração natural é rara. Para isso, as sementes coletadas deveriam ser plantadas em baixa densidade em clareiras causadas pela derrubada de árvores. Para garantir o estabelecimento dessas mudas serão necessários tratamentos nos primeiros anos após o plantio e novamente após 25 a 30 anos, quando as árvores que hoje são juvenis (com DAP de 25 cm a 55 cm) serão extraídas. Uma segunda série de plantios de enriquecimento deveria seguir a segunda extração, e assim por diante, por períodos de rotação sucessivos de cerca de 30 anos.
Para melhorar o controle sobre a exploração de mogno na Amazônia Brasileira recomendamos: i) a realização de um inventário das florestas exploradas e não exploradas dentro da área de ocorrência natural do mogno em todo o território nacional, a fim de estimar os estoques históricos e comercializáveis sobreviventes;  ii) a melhoria do controle dos planos de manejo, incluindo o rastreamento via satélite do transporte de toras e o georreferenciamento dos planos de manejo em imagens de satélite; e  iii) a indução à certificação independente do manejo florestal, para dar credibilidade ao comércio de mogno do Brasil.

Mogno: a poucos passos da extinção

Extração clandestina é uma das principais ameaças ao mogno. Seguindo os passos do pau-Brasil, o mogno pode desaparecer.
Mogno-brasileiro (Swietenia macrophylla), Amazonas, Brasil. / ©: Paul Forster / WWF-CanonO mogno-brasileiro (Swietenia macrophylla) é uma árvore nativa da Amazônia, mais comum no sul do Pará. Também ocorre no  Acre, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins. Países como México e Peru também registram ocorrência da espécie.

A árvore pode ser encontrada em floresta clímax, de terra firme, argilosa. O crescimento da planta é rápido, sendo que pode atingir quatro metros aos dois anos de idade. A largura do tronco varia entre 50 e 80 cm de diâmetro. O mogno floresce nos meses novembro e janeiro. Seus frutos amadurecem no mês de setembro e se prolongam até meados de novembro. A árvore é ornamental quando usada na arborização de parques e jardins.

A lagarta Hypsypyla grandella, conhecida como broca-do-mogno, é uma ameaça ao mogno brasileiro. Ela ataca a árvore, impedindo seu desenvolvimento, especialmente em áreas de reflorestamento, onde a densidade é muito maior que na floresta. O plantio de outras espécies por perto pode amenizar os efeitos negativos da broca-do-mogno
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A madeira do mogno é muito usada na produção de móveis. Muitos apreciam o material pela facilidade com que é trabalhado, pela estabilidade e duração. Depois de polida, a madeira apresenta um aspecto castanho-avermelhado brilhante que chama atenção pela beleza. O mogno é usado em mobiliário de luxo, objetos de adorno, painéis, acabamentos internos, entre outros. É aproveitado também na produção de instrumentos musicais, principalmente em guitarras e violões, pelo timbre característico e ressonância sonora, que tende ao médio-grave.

Quase extinto

O mogno corre sério risco de extinção. Um dos motivos é a extração de madeira clandestina que causa também devastação da floresta amazônica. Isso acontece porque o mogno tem alto valor comercial e aceitação no mercado internacional. A espécie já desapareceu de grandes áreas da Amazônia e resiste apenas em regiões de difícil acesso e em áreas protegidas. Mas mesmo as áreas protegidas não intimidam madeireiros ilegais, que abrem estradas na mata em busca das valiosas árvores de mogno. A derrubada ilegal e arraste da madeira leva à destruição de até 30 árvores próximas, o que agrava ainda mais o desmatamento.

A exploração, o transporte e a comercialização do mogno brasileiro estão suspensos no Brasil desde outubro de 2001, por meio de Instrução Normativa, editada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O WWF-Brasil trabalha na região amazônica, onde há maior ocorrência do mogno. Com autoridades governamentais, comunidades locais e indígenas, organizações não-governamentais, o setor privado e outros, a organização busca contribuir para a proteção de grandes porções da Amazônia e de sua singular biodiversidade e serviços ecológicos. 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Música, ritmos e danças que retratam a Amazônia

Nem só de samba e carnaval vive a musicalidade brasileira. A cultura amazônica, por exemplo, que recebeu importante influência dos povos indígenas, tem outras preferências musicais. Nossa região possui cultura, hábitos e tradições que persistem e quase não foram alterados através dos tempos. Mesmo com as massivas propagandas subliminares veiculadas na grande mídia, a exemplo da axé-music, da música sertaneja e de outras tantas.
Apenas o forró, o swing e o calipso conseguiram adentrar-se na região. O primeiro, em áreas colonizadas por nordestinos (ex-soldados da borracha), em especial no Acre, em Roraima e em Rondônia. Hábitos culturais e culinários regionais exuberantes, com aromas e sabores personalíssimos, ainda se mantêm, em alguns aspectos, quase inalterados. O calendário de eventos das cidades da região também expressa essa característica própria em elementos como música, artes plásticas, artesanato e folclore regionais.
O brega, a toada do Boi de Parintins e o carimbó formam o tripé musical da Amazônia cultural e artística. Em Manaus, pelo menos um dia da quadra momesca é dedicado exclusivamente às toadas do Boi de Parintins, denominadoCarnaboi, influência que atinge até os festejos do aniversário da capital amazonense, em outubro, com o Boi Manaus.
A toada do Boi de Parintins nada tem a ver com a do tradicional bumba-meu-boi do Maranhão. Ela nasceu do mesmo processo de transformação do folclore na Ilha Tupinambarana, com destaque para os surdos e as caixinhas — colocando as baterias em segundo plano. A coreografia tem movimento de pernas tipo “dois para lá, dois para cá”, sincronizados com os braços e o corpo. As toadas ganharam força e espaço na mídia nacional com os cantores Zezinho Corrêa (Grupo Carrapicho), Fafá de Belém e David Assayag.
No interior do Estado do Amazonas, os diversos municípios também realizam suas festas próprias, como Manacapuru, com seu Festival de Cirandas; ou oFestival da Canção, em Itacoatiara, com artistas, compositores e intérpretes.
Além das toadas do boi-bumbá, a riqueza musical e coreográfica da Amazônia apresenta um grande elenco de músicas, ritmos e danças, como a dança das pretinhas de Angola, o bangüê, o batuque, o marabaixo, o gambá, o carimbó, o siriá, a chula marajoara, a dança do coco, a ciranda, o lundu, a marujada de Bragança (chorado, retumbão, mazurca, valsa, xote, contra-roda), o marambiré, o obaluaiê, o samba do cacete, a dança dos vaqueiros de Marajó e outras tantas. Isso sem falar no brega e no forró, que são muito populares na região.
O Amapá, contagiado pela cultura negra, onde se destacam os grupos Senzalas, Pilão e Negro de Nós, além de vários cantores e compositores locais, traz, em seus talentosos artistas, o jeito de cantar as coisas da Amazônia, diferente da negritude baiana. Os amapaenses mostraram o que há de melhor na música tucuju, com muito batuque, marabaixo, cacicó e zouk (ritmos da cultura local, da Guiana e do Caribe, mas com características próprias da região).
O brega e o carimbó dominam os palcos e salões paraenses, ritmos que venceram a imensidão regional levados pelas ondas do rádio e pelos canais de televisão. Essas novas tendências musicais se expandiram de fato nos anos 1970, firmando-se nacionalmente com uma nova performance, com muitoswing. O brega, que foi inspirando no swing, em especial na música It’s Now or Never, interpretada pelo “rei” Elvis Presley, passou por várias fases de renovação e mudanças rítmicas, firmando-se no plano nacional, em especial no Estado do Pará. Ritmo quente e com letras irreverentes, o brega ocupa cada vez mais espaço e atenção nas mídias alternativas regionais.
Atualmente, o brega ganhou mais popularidade, novos intérpretes e compositores e novas bandas: Roberto Vilar (maior vendagem de disco), Tony Brasil, Banda Sayonara, Banda Xeiro Verde, Banda Sabor de Açaí, Calypso, entre outros. Mas, sem dúvida, seus maiores expoentes nacionais são os cantores Reginaldo Rossi e Wanderley Andrade, que mostram carisma e têm uma legião de fãs espalhada em todos os cantos.
No palco e nas reportagens sobre o ritmo, o brega é um grande fenômeno junto ao público. Mas, longe do sucesso meteórico dos grandes astros que contam com a estratégia de publicidade de gravadoras multinacionais, produtoras, selos e divulgação na grande mídia, o brega paraense se desenvolve com seu estilo próprio. Esse movimento musical caracteriza-se por uma variedade de estilos de músicas do brega paraense, incluindo os já conhecidos bregas pop e calipso. Seus autores, entre eles o maestro Manoel Cordeiro, afirmam que essa atual denominação, calipso, é mais vendável, porque o paraense da classe média, apesar de gostar do estilo musical, não tem muita simpatia pelo nome brega, pois sempre associa essa palavra a algo cafona, tão utilizado no passado.
Mas é o carimbó que assume mais plenamente a personalidade paraense. O município de Marapanim (PA) defende o direito de ser o criador do ritmo alucinante que marca o folclore paraense. Carimbó é o nome dado ao instrumento de percussão feito de um tronco escavado de 1 m de comprimento por 30 cm de diâmetro, em cuja extremidade era esticado um couro de veado que produzia o som. Naturalmente que os tambores vieram do batuque, base rítmica da cultura negra introduzida no Brasil pelos escravos africanos, mais tarde assimilados por índios e brancos.
O renomado escritor José Veríssimo afirmou que, na dança do gambá, ou tambores de gambá, em Óbidos, usavam-se os mesmos tipos de percussão. Na região canavieira do Estado (Igarapé-Miri), predominava o bangüê, que também usava o mesmo instrumento. Conclui-se, portanto, que o curimbó, ou carimbó, surgiu da necessidade que os negros escravos sentiam de se divertir, e a música adaptada das rodas de samba favorecia o distanciamento do estado nostálgico dos escravos que viviam nos sítios e nas fazendas da região. Porém, o município de Marapanim, ao que tudo indica, foi de fato o criador da dança do carimbó, surgido num lugar chamado Santo Antônio, hoje Maranhãozinho, no município. Os registros da irmandade de São João Batista dão conta de que as cantorias eram feitas com os atabaques. A partir daí, foi aproveitado o nome do tambor para a dança e tornou-se a dança do carimbó, que passou a incorporar uma das riquezas culturais do município de Marapanim e, logicamente, do Estado do Pará.
No fim do século XIX, a polícia não admitia a dança, pois afirmava ser dança de desocupados, dança de negros, dança de escravos, e isso criava problemas seriíssimos, pois os brancos não aceitavam essa manifestação. Mais tarde, o carimbó se tornou uma festa de temporada, e as autoridades reservaram o mês de dezembro para que fossem levantados os barracões, onde se dançava a noite toda. A aceitação veio em função do espírito religioso, pois os negros também queriam homenagear São Benedito, que se celebra dia 26 de dezembro. Nessa data, era levantado o mastro votivo, e os juízes do mastro e da bandeira eram os promotores das noitadas de carimbó, que se estendiam até o dia 6 de janeiro, quando era festejado o Dia dos Santos Reis.
O carimbó que se pratica hoje na região do Sal gado é definido como carimbó praiano, diferente na parte coreográfica do carimbó rural e do pastoril. O carimbó praianoé dançado de forma ereta, e o cavalheiro é o centro das atenções porque lhe cabe a primazia “de tirar a dama para a dança”; já no carimbó rural e no pastoril, o cavalheiro dança agachado, bem chegado ao lundu que se dança no Arquipélago de Marajó.
O carimbó teve inúmeros mestres nessa arte, porém o destaque maior fica para Lucindo Costa, conhecido como Mestre Lucindo. Mas devemos reconhecer a contribuição de inúmeros cantores, como Eliana Pitman, que talvez tenha sido a primeira artista a reconhecer o carimbó como ritmo; Roberto Leal, que internacionalizou o ritmo; Nazaré Pereira e o velho Pinduca, que ganhou até mesmo o título de Rei do Carimbó.
Além dos ritmos e das danças mais tradicionais de nossa região, como a toada, o carimbó e o brega, outros compõem o elenco regional, como segue abaixo:
Marambiré – A dança vem do ex-quilombo do Pacoval, vila alenquerense localizada à margem do Rio Curuá. É um patrimônio histórico e cultural do município e traz a lembrança dos antepassados africanos do antigo quilombo, que não deve ser vista somente como expressão isolada da raça negra, mas sua integração no contexto regional. Acontece no Natal, se prolonga até 20 de janeiro, Dia de São Sebastião.
Bangüê ou Dança dos Engenhos – Criada pelos escravos africanos que habitavam a Ilha de Marajó e o município de Cametá, a dança folclórica surgiu nos engenhos chamados bangüê (engenho de açúcar, em dialeto africano). Os movimentos exagerados da dança se devem à imitação das ondulações feitas pela espuma do tacho (caldeirão), onde se preparava o mel de cana.
Batuque – Uma manifestação que se ramificou do candomblé e foi implantada na Amazônia na era colonial, da mesma forma como nas demais províncias e regiões brasileiras. O batuque é a denominação genérica dada pelos portugueses para toda e qualquer dança de negros ou qualquer dança de tambor de caráter religioso ou não. No Pará, Amapá e Amazonas, é a denominação comum para os cultos afro-brasileiros. No Amapá, o batuque assume rituais miscigenados, praticados na comunidade do Curiaú e em outras de origem negra.
Ciranda do Norte – A dança é de origem portuguesa, tendo uma forma complexa e outra simples. Dançada mais precisamente nas cidades amazonenses de Tefé e Maracapucu, em forma de cordão de pássaros, é rica em sua concepção, na qual nota-se uma variação de passos com diversificação rítmica. É dançada sempre em círculos.
Lundu Marajoara – Outra dança de origem africana que provoca muito interesse. O tema é a sedução da mulher pelo homem. A coreografia é tão carregada de sensualidade que foi proibida no século XIX, voltando a ser praticada às escondidas. No solo marajoara, em Soure, vale registrar o trabalho do grupo de dança existente na Fazenda Tapera, onde a dança é apresentada para turistas, curiosos e estudiosos das danças folclóricas.
Marujada de Bragança – A festividade nasceu de uma autorização dada a catorze escravos devotos de São Benedito que assinaram um compromisso e fundaram a Irmandade de Marujada, em 1798, no município de Bragança do Pará. Nesse ato, os escravos ganharam os direitos de divertir-se, à devoção do santo de sua cor, dançar a seu modo, rezar dançando, etc. A festa acontece no mês de dezembro, quando homens (marujos) e mulheres (marujas) percorrem a cidade imitando o balanço de um barco na água. A marujada de Bragança é dividida em várias danças, como: contradança, retumbão, mazurca, valsa, xote, choro e roda.
Pretinha d’Angola – A dança das pretinhas de Angola é de origem africana, trazida por escravos de Angola que se estabeleceram nas proximidades do Rio Tapajós, mais precisamente no município de Santarém. Essa dança foi muito cultivada quando as escravas africanas e suas descendentes reuniam-se na praça matriz, em frente à igreja, para a interpretação dessa belíssima manifestação coreográfica. De um modo geral, a formação para a dança é de círculo. É exclusivamente dançada por mulheres.
Dança do Siriá – Originária de Cametá, a dança é considerada uma expressão impetuosa de amor, de sedução, de gratidão. O nome siriá surgiu devido à distorção lingüística dos caboclos e escravos da região, quando eles saciavam sua fome com grande quantidade de siris, que denominavam de siriá.
Pinduca, o Rei do Carimbó – Aurino Quirino Gonçalves, o popular Pinduca, foi o responsável pela difusão do carimbó pelo mundo afora. Não fosse ele, talvez somente parte do Pará conheceria esse segmento alegre e dançante da música do Estado. A exemplo do Boi de Parintins, que teve de se valer de instrumentos eletrônicos e artifícios cênicos para ganhar o público mundial, Pinduca popularizou o ritmo com os mesmos ingredientes e ainda motivou artistas ao carimbó, como Eliana Pitman e Roberto Leal. Ele conta que Eliana Pitman teve contato com o carimbó, pela primeira vez, em Fortaleza (CE), ouvindo um de seus discos em uma barraca de praia. A artista gostou da música e entrou em contato com Pinduca. Daí foi o passo que o carimbó precisava para ganhar o País. Pinduca tem 28 discos gravados em 33 anos de carreira, levando o ritmo, juntamente com o sirimbó, o siriá e a lambada, para a Bolívia, o Peru, a Colômbia, Angola e a Guiana Francesa, onde faz sucesso. Apresentou o carimbó em centenas de shows e em programas de TV de apresentadores como Chacrinha, Raul Gil, Gugu Liberato, Sílvio Santos e outros, sempre como representante da música paraense.