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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Marcas gigantes no solo da Amazônia intrigam cientistas


Elas passaram séculos escondidas pela floresta. Agora, com o desmatamento para a criação de gado, estão aparecendo cada vez mais. Os geoglifos são formas perfeitas escavadas no solo, espalhadas pelo extremo oeste da Amazônia.
  
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Serão vestígios de uma sociedade desconhecida? Ou restos do lendário reino de Eldorado, com que tantos exploradores sonharam? 

Segundo o paleontólogo Alceu Ranzi, da Universidade Federal do Acre, os geoglifos formavam um grande sistema que se estendia por centenas de quilômetros nessa região da Amazônia. Ranzi fazia parte da equipe que descobriu os desenhos, em 1977. Mas foi só nos últimos tempos que o número de achados disparou, graças a fotos de satélite disponíveis na internet. Já são quase 300 geoglifos - de alguns, os pesquisadores nunca chegaram perto.



Apesar do nome, Boca do Acre fica no Amazonas. É para lá que foi a equipe de reportagem do Fantástico, para ver de perto alguns geoglifos que até então só haviam sido observados pelo pesquisadores por imagens de satélite. Em pouco tempo de voo é possível ver as formas - algumas bem nítidas, outras parcialmente encobertas pela mata. “Normalmente são quadrados e círculos. Temos octógonos também, hexágonos...”, cita Ranzi. 

Para Jacob Queiroz, 93 anos, dono de terras onde existem algumas figuras, elas não podem ser simples obras da natureza. 
“Isso aqui foi gente que fez. Trabalho de engenheiro”, comenta.
Revolução

Dentro de um dos canais que forma as figuras, é possível ver que a terra foi escavada e cuidadosamente empilhada do lado de fora. Por isso, chegou-se a pensar que as valas seriam trincheiras da revolução acriana, a revolta do início do século 20 contra a dominação da Bolívia no território. 

Mas a teoria das trincheiras está fora de cogitação. As análises geológicas publicadas mostram que os geoglifos são muito mais antigos: do século 13. 
Outra questão intrigante é como os habitantes daquela época conseguiram fazer isso dentro de uma floresta densa. “Imagino que essa região da Amazônia devia estar passando por um problema climático”, diz Ranzi. Os cientistas têm uma hipótese: na época da construção dos geoglifos, a Amazônia pode ter passado por uma seca muito forte, que transformou a floresta numa imensa savana, parecida com o cerrado brasileiro. 
Falta ainda a principal peça do quebra-cabeça: que tipo de sociedade projetou esses monumentos? Certamente devia ter um certo grau de organização para elaborar esses monumentos. As principais teorias sobre os povos que viviam nesta região antes de o Brasil ser descoberto dizem que esses povos jamais teriam tamanha sofisticação, eram nômades, ou seja, não passavam muito tempo no mesmo lugar. 
Para Jacó Piccoli, antropólogo da Universidade Federal do Acre, é possível que haja uma relação estreita com os antepassados dos índios atuais. “Mas podem ter sido também outras populações que habitaram a região”, pondera. É difícil estabelecer uma origem clara para os geoglifos, porque não se encontram pistas nas tradições dos índios que vivem hoje na região. 
Na falta de respostas, os moradores abraçam o sobrenatural. Seu Jacob conta que, estranhamente, as valas nunca alagam quando chove e que, do chão, sobe uma espécie de zumbido. “Uuuuuu.... que nem uma abelhal”, conta. 
Também não faltam suposições delirantes, como, por exemplo, que os geoglifos seriam marcas deixadas por extraterrestres. 
Quando olham para a imensidão da floresta amazônica preservada, os cientistas ficam imaginando quantos geoglifos, quantos desenhos geométricos estão escondidos debaixo das árvores. Eles estimam que nem 10% deles tenham sido revelados.

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